
A palavra cultura tem múltiplos sentidos. Para o antropólogo Clifford Geertz (1989), o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu e a cultura seria essas teias e a sua análise. Assim, a cultura é um sistema de símbolos que interage com os sistemas de símbolos de cada indivíduo em um diálogo mútuo e permanente. Compreender o homem e a cultura é interpretar essa teia de significados. Segundo Stuart Hall (2003), a cultura é um processo de construção, em constante mudança. Logo, “a cultura é uma produção. (…) a cultura não é uma questão de ontologia, de ser, mas de se tornar” (HALL, 2003, p. 44).
Segundo Geertz, a cultura não é nunca particular, mas sempre pública, eis que os significados dos comportamentos são compartilhados pelos indivíduos que convivem em determinados contextos,constituindo-se em um fenômeno social, cuja gênese, manutenção e transmissão estão a cargo dos atores sociais. Logo, a cultura é a própria condição de vida de todos os seres humanos, sendo produto das ações humanas, como também processo contínuo pelo qual as pessoas dão sentido às suas ações.Assim, é possível pensar a dimensão cultural como constitutiva da dinâmica humana.

Assim como para cultura, a palavra popular também possui vários significados. O que mais corresponde ao senso comum é que popular é aquilo que as massas consomem e apreciam muito, o que associa a cultura popular à manipulação e ao aviltamento à cultura do povo. No entanto, para Stuart Hall (2003) esse entendimento não corresponde à verdade, porque ele nos leva a pensar as “formas culturais como algo inteiro e coerente ou inteiramente corrompidas ou inteiramente autênticas, enquanto que elas são profundamente contraditórias, jogam com as contradições, em especial quando funcionam no domínio do ‘popular’” (HALL, 2003, p. 255-256).
Para o filósofo jamaicano, radicado no Reino Unido, não existe uma “‘cultura popular’ íntegra, autêntica e autônoma, situada fora do campo de força das relações de poder e de dominação culturais”(HALL, 2003, p. 253), tendo em vista que a cultura popular está inserida no contexto das indústrias culturais. Assim é preciso entender o seu duplo movimento, seu processo dialético de contenção e resistência:
[…] há uma luta contínua e necessariamente irregular e desigual, por parte da cultura dominante, no sentido de desorganizar e reorganizar constantemente a cultura popular; para cercá-la e confinar suas definições e formas dentro de uma gama mais abrangente de formas dominantes. Há pontos de resistência e também momentos de superação. Esta é a dialética da luta cultural. Na atualidade, essa luta é contínua e ocorre nas linhas complexas da resistência e da aceitação, da recusa e da capitulação, que transformam o campo da cultura em uma espécie de campo de batalha permanente, onde não se obtém vitórias definitivas, mas onde há sempre posições estratégicas a serem conquistadas ou perdidas (HALL, 2003, p. 255).
Desse modo, a cultura popular não pode ser entendida como uma tradição intacta, parada no tempo e frágil, tendo a preservação como elemento principal no discurso de sua conservação. Ela está inserida no contexto das indústrias culturais, desse modo, a luta cultural pode assumir diversas formas, com infinitas possibilidades de transformação.
Obs. Texto de Elysangela Freitas extraído do relatório de atividade de produção apresentado à Universidade Católica de Pernambuco, como requisito para obtenção do título de Especialista em Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual. Para o relatório completo acesse aqui.
Você também pensa assim? Não? Então coloca nos comentários qual o seu entendimento sobre o que é cultura popular. Se sim. Tem algo a complementar? Vou adorar refletir sobre esse tema junto com vocês.
Gostou? Então acesse os posts anteriores:
- Quem foram nossas referências visuais? (parte 1)
- Quem foram nossas referências visuais? (parte 2)
- Quem foram nossas referências visuais? (parte 3)
- E na escrita? Quem nos inspirou?
Tá curioso para ver as fotos do ensaio? Você pode conferir aqui.
Quer saber mais sobre as brincadeiras fotografadas? Dá uma olhada aqui.
REFERÊNCIAS
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais.Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003.
Muito bom moça! ★★★★★
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Gratidão @rezolunar!
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