Maracatu de Baque Virado (Maracatu Nação)

Nas ruas da Região Metropolitana do Recife o som do batuque de um maracatu nação pode ser ouvido ao longe, especialmente nos meses que antecedem o Carnaval. É como se fosse o coração da cidade. O maracatu nação, também conhecido como maracatu de baque virado, é uma manifestação cultural performática que engloba música e dança.

As exibições dos maracatus de baque virado são em forma de um cortejo real, onde seus integrantes usam fantasias ricamente adornadas. Os personagens que compõem o cortejo variam de grupo para grupo, e cada um possui uma função e significados próprios. Em geral a comitiva é formada por porta estandarte, dama do paço, damas de frente, baiana de cordão ou catirinas, baianas ricas, a corte, os soldados, os vassalos, o caboclo arreiamá ou de pena, o rei e a rainha. Estes últimos desfilam protegidos por um grande pálio colorido – símbolo real – chamado de umbrela, carregado por um pajem.

O cortejo sempre é acompanhado por um grupo percussivo, o batuque, composto por alfaias (grandes tambores de cordas) mais caixas de guerra, gonguê e mineiro (espécie de ganzá). Alguns maracatus introduziram novos instrumentos em seus batuques: o agbê e o atabaque. Todos cantam loas e toadas para louvar os ancestrais.

Cada nação de maracatu é única. Cada uma possui seu sotaque próprio, sua forma particular de tocar, sua identidade percussiva. E onde tem baque de maracatu é impossível ficar parado, começa-se logo a dançar. Entre os maracatus nação a dança não é coreografada. Os corpos do integrantes do brinquedo reverberam o batuque ritmado dos tambores em gestos dançados livremente. “A vibração extraída dos tambores de corda pelos batuqueiros é percebida visualmente em todos os movimentos dos passistas que compõem o cortejo, que bailam e rodopiam como se envolvidos hipnoticamente pela rítmica dos tambores, conforme são tocados”.

Não há um consenso sobre as origens dos maracatus nação, mas é certo que eles têm uma relação estreita com práticas religiosas de terreiro (candomblé ou xangô, como é conhecido em Pernambuco, jurema e umbanda). As calungas, bonecas conduzidas pelas damas do paço, expressam a síntese da dimensão sagrada onde os axés do maracatu estão depositados. Elas simbolizam antigos ancestrais (eguns) ou orixás.

A história dos maracatus de baque virado é complexa e marcada por muitas permanências e ressignificações ao longo dos anos. São construções culturais conscientes, que estão presentes na forma de tocar, cantar e dançar que caracterizam uma manifestação cultural que faz pulsar o carnaval do grande Recife.

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Dossiê do Maracatu Nação
Vídeo do Registro

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Mário. Danças Dramáticas do Brasil.2 ed. Belo Horizonte: Itacaia; Brasília: INL, Fundação Nacional Pró-Memória, 1982.

AMORIM, Maria Alice,  Patrimônios Vivos de Pernambuco. Recife: FUNDARPE, 2010.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICOS NACIONAL. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br>. Acesso em: 01 dez. 2016.

LIMA, Cláudia. Evoé:história do carnaval – das tradições mitológicas ao trio elétrico. 2aEdição. Recife: raízes brasileiras, 2001.

MAIOR, Mário Souto e SILVA, Leonardo Dantas (orgs). Antologia do Carnaval do Recife. Recife: FUNDAJ, Editora Massangana, 1991.

OLIVEIRA, Maria Goretti Rocha de. Danças populares como espetáculo público no Recife, de 1979 a 1988.Recife: O autor, 1991.

REAL, Katarina. O Folclore no Carnaval do Recife. 2a. edição revisada e aumentada. Recife: FUNDAJ, Editora Massangana, 1990.

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  1. Muito interessante! Muito bom ter tantas informações disponíveis de uma fonte confiável! Adorei!

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    1. Muito obrigada, Andrea! Pela sua experiência sua avaliação é bem importante para que possamos aperfeiçoar cada vez mais o conteúdo do site. Um grande abraço!

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